Mercedes Sosa
Mercedes Sosa, Argentina, San Miguel de Tucumán 9 de Julho de 1935 — Buenos Aires 4 de Outubro de 2009
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Mercedes Sosa, Argentina, San Miguel de Tucumán 9 de Julho de 1935 — Buenos Aires 4 de Outubro de 2009
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Esta é realmente a grande ansiedade, porque quanto mais a vida para cá do túmulo se alarga em actividade e se multiplica em força mais profundamente se infiltra na alma a ânsia do não cessar... Em suma esta geração nova sente a necessidade do divino. A ciência não faltou, é certo, às promessas que lhe fez: mas é certo também que o telefone, o fonógrafo, os motores explosivos e a série de éteres não bastam a acalmar e a dar felicidade a estes corações moços. Além disso, eles sofrem desta posição ínfima e zoológica a que a ciência reduziu o homem, despojado por ela da antiga grandeza das suas origens e dos seus privilégios de imortalidade espiritual. É desagradável, para quem sente a alma bem conformada, descender apenas do protoplasma; e mais desagradável ter o fim que tem uma couve, a quem não cabe outra esperança senão renascer como couve. O homem contemporâneo está evidentemente sentindo uma saudade dos tempos gloriosos em que ele era a criatura nobre feita por Deus, e no ser corria como um outro sangue o fluido divino, e ele representava e provava Deus na Criação, e quando morria reentrava nas essências superiores e podia ascender a anjo ou santo.[...]
O estridente tumulto das cidades, a exageração da vida cerebral, a imensidade do esforço industrial, a brutalidade das democracias hão-de necessariamente levar muitos homens, os mais sensíveis, os mais imaginativos, a procurar o refúgio do quietismo religioso – ou pelo menos a procurar no sonho um alívio à opressão da realidade. Mas esses mesmos não podem nem destruir, nem sequer desertar o trabalho acumulado da civilização. Estão dentro dela, encarcerados nela – e o mais que podem é reagir, com o seu idealismo exacerbado, sobre o materialismo ambiente. O que sucederá é que, sobre muitos problemas que a ciência não pôde ainda resolver, se vai exercer, como um socorro imprevisto, a acção da fé, uma fé renovada e transformada, acomodada às exigências da civilização e da própria ciência, que poderá ser chamada de neocristã – e que não será talvez mais que uma espécie de protestantismo, à Schlevermaker, filosófico e requintado. É esta acção que nós estamos vendo, ainda vaga, mas já viva, operar sobre as questões sociais com o nome de socialismo cristão.
. Eça de Queiroz in "Notas Contemporâneas"
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