Pablo Neruda # O Pai
Ricardo Eliezer Neftalí Reyes Basoalto nasceu em Parral, Chile, em 12 de julho de 1904. Anos mais tarde, em 1923, Ricardo Basoalto vendeu todos os seus bens, penhorou o relógio presenteado pelo pai e publicou o seu primeiro livro, “Crepusculario”. O mundo ficou a saber que havia um poeta que assinava Pablo Neruda.
Terra de semente inculta e bravia,
terra onde não há esteiros ou caminhos,
sob o sol minha vida se alonga e estremece.
Pai, nada podem teus olhos doces,
como nada puderam as estrelas
que me abrasam os olhos e as faces.
Escureceu-me a vista o mal de amor
e na doce fonte do meu sonho
outra fonte tremida se reflecte.
Depois... Pergunta a Deus porque me deram
o que me deram e porque depois
conheci a solidão do céu e da terra.
Olha, minha juventude foi um puro
botão que ficou por rebentar e perde
a sua doçura de seiva e de sangue.
O sol que cai e cai eternamente
cansou-se de a beijar... E o outono.
Pai, nada podem teus olhos doces.
Escutarei de noite as tuas palavras:
... menino, meu menino...
E na noite imensa
com as feridas de ambos seguirei.
Pablo Neruda, in "Crepusculario"
Fotografia original em http://www.neruda.uchile.cl/infancia.htm
«Escrever é fácil. Você começa com uma maiúscula e termina com um ponto final. No meio coloca ideias.»
Pablo Neruda