Nicolas Camille Flammarion
Há 167 anos, a 26 de Fevereiro de 1842, nasceu Nicolas Camille Flammarion em Montigni-Le-Roi, região leste da França, tendo falecido a 3 de Junho de 1925 em Juvisy-sur-Orge.
Os pais de Flammarion tiveram mais três filhos, Berthe Martin, Ernest e Marie Valliant (Ernest Flammarion tornou-se dono de uma livraria e editora que publicou, e ainda publica, algumas das obras do irmão).
Embora o pai fosse céptico em assuntos de religião, a sua mãe era católica praticante e acreditava que o filho pudesse dedicar-se à vida eclesiástica. Mas os interesses do pequeno dirigiam-se mais para as ciências e quando o pai lhe emprestou um livro de Cosmografia, ele copiou-o, especialmente os sistemas de Ptolomeu, Copérnico e Tycho-Brahe.
O seu interesse pelos livros veio desde os tenros anos da infância e, aos oito anos, Flammarion já possuía uma biblioteca de 50 volumes.
Aos 15 anos escreveu um livro de cerca de 500 páginas, que ele próprio ilustrou com 150 desenhos, intitulado "Cosmogonia universal: estudo do mundo primitivo". Este trabalho seria publicado mais tarde com o título: "O mundo antes da aparição do homem."
Com este livro em mãos, o jovem apresentou-se no Observatório de Paris, à época dirigido por Le Verrier, o astrónomo que havia descoberto Neptuno sem instrumentos, apenas usando cálculo. Após ser entrevistado e avaliado foi aceite como aluno astrónomo.
Entre os tipos de actividades que realizou, Flammarion mediu estrelas duplas e realizou cálculos das suas órbitas, estudou a direcção das correntes aéreas, fez estudos higrométricos do ar, analisou a rotação de corpos celestes, elaborou mapas de Marte e escreveu trabalhos sobre a constituição física da Lua.
Aos 19 anos, em 1861, publicou o seu primeiro livro: "Pluralidade dos Mundos Habitados".
Esta obra trata do sistema solar, realiza um estudo comparativo dos planetas, discute a fisiologia dos seres a fim de abordar a questão da habitabilidade, trata de habitantes de outros mundos e da pluralidade dos mundos ante o dogma cristão.
Em Junho de 1863, tornou-se redactor científico da revista "Cosmos", colabora nas revistas "Siècle", "Magasin Pittoresque" e funda, em 1882, a revista "L"Astronomie".
Em 1883, funda o Observatório de Juvisy onde passou a realizar os seus trabalhos nas áreas de astronomia, climatologia e meteorologia.
Quatro anos depois, fundou a Sociedade Astronómica de França com o objectivo de "difundir as Ciências do Universo e fazer os amadores participarem do seu progresso". Entre outros prémios e distinções foi-lhe atribuído, pela Academia Francesa, o prémio Montyon, em 1880, pelo seu livro "Astronomia Popular". Nas suas memórias, Flammarion refere as distinções “Ruban Violet” de oficial da instrução pública, a “Grande Ordem da Cruz de Isabel a Católica” e a “Cruz da Grande Ordem de Carlos III”, oferecidos pelo governo espanhol. D. Pedro II, imperador do Brasil, foi pessoalmente ao observatório de Juvisy entregar-lhe a comenda da "Ordem da Rosa" e Flammarion recebeu das mãos do rei e da rainha da Roménia o título de "Grande Oficial da Estrela da Roménia".
No entretanto, em 1861, ao folhear alguns livros numa livraria, deparou-se com “O Livro dos Espíritos” de Allan Kardec, tendo constatado que a obra tratava, entre outros, do assunto do livro que ele estava escrevendo: “Pluralidade dos Mundos Habitados”. O que mais o intrigou é que a origem das informações era atribuída a espíritos, o que ele resolveu verificar.
Procurou Allan Kardec e passou a assistir às reuniões da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Flammarion frequentou, também, as sessões de uma médium de efeitos físicos, Mme. Huet, onde se cruzou com Victorien Sardou e o livreiro Didier. Outro grupo importante com que o jovem Flammarion parece ter tido contacto, por via literária e pessoalmente, foi o grupo de Victor Hugo.
No entanto, as ideias positivistas, especialmente as referentes ao conceito e papel da ciência no conhecimento, eram marcantes no seu espírito. O empirismo de braço dado com a razão, a construção das teorias a partir da observação dos factos e o uso da matemática na análise dos fenómenos são uma constante na construção do seu pensamento, seja nas pesquisas astronómicas, seja nas pesquisas psíquicas.
Fiel a estes princípios, Flammarion adoptou uma postura reservada na análise dos fenómenos espíritas.
Isso não obstou a que fosse convidado a discursar no funeral de Allan Kardec tendo, na circunstância, reconhecido o trabalho do codificador do Espiritismo, considerando-o "o bom-senso encarnado", e propondo-se desenvolver o aspecto científico do Espiritismo afirmando: "Conforme o seu próprio organizador previu, esse estudo, que foi lento e difícil, tem que entrar agora num período científico. Os fenómenos físicos, sobre os quais a princípio não se insistia, hão-de tornar-se objecto da crítica experimental, a que devemos a glória dos progressos modernos e as maravilhas da electricidade e do vapor. (...) Porque, meus Senhores, o Espiritismo não é uma religião, mas uma ciência, da qual apenas conhecemos o a, b, c. Passou o tempo dos dogmas."
Na suas memórias Flammarion afirma ter sido convidado a presidir à Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, tendo declinado e explicando porquê:
"O comité ofereceu-me suceder a Allan Kardec como presidente da Sociedade Espírita. Eu recusei, dizendo que nove décimos dos seus discípulos continuariam a ver, durante muito tempo ainda, uma religião mais que uma ciência, e que a identidade dos "espíritos" estava longe ainda de ser provada."
Anualmente celebram-se, em França, as “Festivités Flammarion”.