Auto‑consciência é, pois, a designação moderna do conceito de pneuma entre os gregos e de spiritu para os de fala latina e que chegou até nós como espírito. As neuro‑ciências, mesmo as mais avançadas e optimistas, não ousam afirmar que a auto‑consciência, a percepção interior de um eu autónomo, é um produto da actividade cerebral, da activação de umas certas redes neuronais ou da circulação de mediadores químicos. Não são a dopamina, a serotonina ou as encefalinas que constroem a auto‑consciência; manifestam‑se nela, ajudam à sua expressão, mas não a constituem. Também não são os circuitos neuronais que memorizam simbolicamente as percepções e que, a qualquer momento, as tornam presentes na auto‑consciência, que a constituem, embora lhe forneçam conteúdos para que ela se torne deliberativa e comunicacional.
Esta auto‑consciência, como o mais íntimo da intimidade pessoal, é a revelação, em cada um de nós, do espírito.
Podemos ficar neste patamar e dizer, apenas, que o espírito é, por ora, um mistério para os neuro‑biologistas.
Daniel Serrão