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Caminhos de Eva

Caminhos de Eva

Eva percorrendo umas vezes estradas, outras veredas. Caminhando sempre com amor e a esperança de encontrar a porta certa. Parando de vez em quando para retemperar forças... admirar uma flor… uma paisagem… fazer novas amizades... e meditar... e reencontrar velhos amigos... e demais companheiros de jornada!
12
Jun11

Só por hoje...

eva

SÓ POR HOJE - procurarei viver apenas o dia que passa, sem tentar resolver ao mesmo tempo todos os problemas da minha vida. Durante vinte e quatro horas apenas, poderei fazer alguma coisa que me encheria de pavor se eu pensasse que tinha de a fazer pelo resto da minha vida.

SÓ POR HOJE - sentir-me-ei feliz. Farei verdadeira aquela frase de Abraham Lincoln: "A maior parte das pessoas é tão feliz quanto resolve ser".

SÓ POR HOJE - procurarei fortalecer a minha inteligência. Aprenderei alguma coisa de útil. Vou ler alguma coisa que exija esforço, pensamento e concentração.

SÓ POR HOJE - procurarei adaptar-me aos factos, em vez de procurar adaptar tudo o que existe aos meus próprios desejos.

SÓ POR HOJE - exercitarei a minha alma de três maneiras: Procurarei fazer um benefício a alguém, sem o contar a quem quer que seja. Farei, pelo menos, duas coisas que hoje não me apetece fazer, só por exercício. E se alguma coisa me magoar, não o revelarei a ninguém.

SÓ POR HOJE - procurarei mostrar melhor aparência: vestir-me-ei bem, falarei baixo, agirei delicadamente, não farei críticas e não tentarei corrigir, nem dar ordens a ninguém a não ser a mim mesmo.

SÓ POR HOJE - estabelecerei um programa de acção. É possível que não o siga à risca, mas tentarei. Vou evitar duas pragas: a pressa e a indecisão.

SÓ POR HOJE - dedicarei uma meia hora a mim mesmo para meditação e repouso. Durante essa meia hora vou procurar ter uma melhor perspectiva da minha vida.

SÓ POR HOJE - não terei medo. Especialmente, não hei-de ter medo de apreciar a beleza e de acreditar que aquilo que eu der ao mundo, o mundo me devolverá.

17
Jan10

O Medo segundo Alexandre O'Neill

eva

Alexandre Manuel Vahia de Castro O'Neill de Bulhões (Lisboa, 19 de Dezembro de 1924 - 21 de Agosto de 1986) 

 

 

Perfilados de medo
 
Perfilados de medo, agradecemos
o medo que nos salva da loucura.
Decisão e coragem valem menos
e a vida sem viver é mais segura.
  
Aventureiros já sem aventura,
perfilados de medo combatemos
irónicos fantasmas à procura
do que não fomos, do que não seremos.
  
Perfilados de medo, sem mais voz,
o coração nos dentes oprimido,
os loucos, os fantasmas somos nós.

Rebanho pelo medo perseguido,
já vivemos tão juntos e tão sós
que da vida perdemos o sentido...
 

 

 

O Poema Pouco Original do Medo
 
O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis
 
Vai ter olhos onde ninguém os veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes 
ouvidos não só nas paredes 
mas também no chão 
no tecto
no murmúrio dos esgotos 
e talvez até (cautela!) 
ouvidos nos teus ouvidos
 
O medo vai ter tudo 
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
óptimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projectos altamente porcos 
heróis
(o medo vai ter heróis!) 
costureiras reais e irreais 
operários
          (assim assim)
escriturários
          (muitos)
intelectuais
          (o que se sabe) 
a tua voz talvez 
talvez a minha 
com certeza a deles
 
Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados
 
Ah o medo vai ter tudo 
tudo
 
(Penso no que o medo vai ter 
e tenho medo 
que é justamente 
o que o medo quer)
 
             *
O medo vai ter tudo 
quase tudo 
e cada um por seu caminho 
havemos todos de chegar 
quase todos 
a ratos
 
Sim
a ratos

 

 
in  "Alexandre O'Neill - Poesias Completas 1951/1983”
 
15
Nov08

O BEM e o MAL

eva
Na minha perspectiva o MAL é como uma ausência de BEM. Também o podemos abordar de uma vertente biológica e encará-lo como uma espécie de desequilíbrio. O medo é um conceito inerente à forma física semelhante à repulsa pela dor.
Aliás encaro sempre o medo como um desequilíbrio, uma disfunção. Também não vejo o "medo" exactamente da mesma forma que vejo o "mal". Penso que há pessoas que não temem o Mal e sim a ausência do Bem. Nunca me dei muito bem com a postura de "temer a Deus" porque acho perfeitamente repugnante a ideia de temer o Bem. Se for absolutamente necessário temer, então temerei a ausência de Bem. Se temer o mal, estarei a concebê-lo, a dar-lhe forma, a materializá-lo.
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de Maria João Brito de Sousa
in “poetaporkedeusker
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