Nenhum homem é uma ilha
Nenhum homem é uma ilha, completo em si próprio; cada ser humano é uma parte do continente, uma parte de um todo... A morte de cada homem diminui-me porque eu sou parte da humanidade.
John Donne
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Nenhum homem é uma ilha, completo em si próprio; cada ser humano é uma parte do continente, uma parte de um todo... A morte de cada homem diminui-me porque eu sou parte da humanidade.
John Donne
Mas tu não sabes,
Tu não vês
Que cada dia,
Só será dia se o tiver justificado?
Nunca sentiste
Essa estranhíssima euforia
Que perpetua
Aquilo que é criado?
Não reparaste
Nas razões que desconheces
A sorrirem pr’a ti
Como se as preces
Não fossem as fronteiras
Do tangível?
Duma humildade que tanto apregoas,
Duma vontade que não dá descanso,
Desse incondicional nunca parar
Que irá justificar sermos pessoas…
Daquilo que vais dando e eu nunca alcanço
Porque é sempre um recuo, esse alcançar…
Se crês poder voar…
porque não voas?
Maria João Brito de Sousa em http://liberdadespoeticas.blogs.sapo.pt/2011/03/09/
Toco este chão
Com olhos de quem beija
E sei que não embarcarei
Mais vez nenhuma
Chão de mim
Em mutação constante
Que outra força
De mim te afastaria?
Constantemente o toco
Com mãos ocas de um nada
Que despejo
E depois recolho
Cheias de um tanto
Que só eu desvendo
Por isso sei
Que não embarcarei
Enquanto as mãos
Puderem sentir
E pressentir
O chão que me deu vida
Maria João Brito de Sousa
in http://liberdadespoeticas.blogs.sapo.pt/
de 17.11.10
Aqui estou,
completamente desdobrada
entre o meu eu do primeiro instante
e o meu eu do último segundo,
no momento exacto
em que acabo de riscar
o que foi escrito
e começo a desenhar
a primeira letra do que está por escrever
Isso sou,
não mais e nunca menos,
exceptuando o pequeno intervalo
entre ser e não ser
em que fui tão além
sem que pudesse escrevê-lo
porque escrever não fez
nem poderia ter feito o menor sentido
Irei,
enquanto se me não cumpre esta distância
entre antes e depois
e nada mais peço
se não este ser
gato-com-ou-sem-botas,
bicho-alado-sem-asas
ou fruto perfeitamente cristalizado
no mesmíssimo ponto
em que qualquer árvore É
antes de lhe apodrecer a raiz
e depois de a Vontade a ter tocado
seja em que universo for!
Maria João Brito de Sousa – 01.12.2010
Eugène Ysaÿe (16 de Julho de 1858, Liège, Bélgica – 12 de Maio de 1931, Bruxelas, Bélgica)
Sonata nº 2 para violino, 1º andamento com Ilya Kaler no violino
Poema Elegíaco (parte 1)
com Philippe Graffin no violino e Pascal Devoyon ao piano
Poema Elegíaco (parte 2)
com Philippe Graffin no violino e Pascal Devoyon ao piano
Em Portugal comemora-se hoje o Dia da Criança.
Decidi ilustrá-lo com uma das mais belas páginas sobre crianças.
Pede-se a uma criança: Desenha uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não há mais ninguém. Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção, outras noutras; umas mais carregadas, outras mais leves; umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase não resistiu. Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era demais. Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: Uma flor! As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flor! Contudo a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz uma flor, e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas, são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!
de Almada Negreiros
in "O Regresso ou o Homem Sentado - III parte"
Há muitas formas de energia no Universo.
Optei por ilustrar deste modo e com um poema da "nossa" querida Maria João.
A cada um a sua energia?
Não vá ser tarde...
Queixo-me destas mãos
que se me colam
às folhas de papel
dos dias neutros
quantos dias, porém,
me serão neutros
se as folhas de papel
se me colarem às mãos?
Subo ao telhado
da nova contradição
vestindo as penas brancas
de um segredo
e rio-me dos fios de prata que correm
nas caleiras de um medo desconhecido
depois torno a queixar-me
das mãos neutras
coladas ao papel dos dias
dou um salto
em forma de metáfora
e pouso suavemente
na superfície desta enchente de mim
Lembro as fábulas
que os deuses me contavam
no tempo em que o homem dominava a terra
e as cidades cresciam como cogumelos
então, encosto-me
à metade verde dos anjos
não vá,
de repente,
ser tarde demais para renascer
Maria João Brito de Sousa
Ricardo Eliezer Neftalí Reyes Basoalto nasceu em Parral, Chile, em 12 de julho de 1904. Anos mais tarde, em 1923, Ricardo Basoalto vendeu todos os seus bens, penhorou o relógio presenteado pelo pai e publicou o seu primeiro livro, “Crepusculario”. O mundo ficou a saber que havia um poeta que assinava Pablo Neruda.
Terra de semente inculta e bravia,
terra onde não há esteiros ou caminhos,
sob o sol minha vida se alonga e estremece.
Pai, nada podem teus olhos doces,
como nada puderam as estrelas
que me abrasam os olhos e as faces.
Escureceu-me a vista o mal de amor
e na doce fonte do meu sonho
outra fonte tremida se reflecte.
Depois... Pergunta a Deus porque me deram
o que me deram e porque depois
conheci a solidão do céu e da terra.
Olha, minha juventude foi um puro
botão que ficou por rebentar e perde
a sua doçura de seiva e de sangue.
O sol que cai e cai eternamente
cansou-se de a beijar... E o outono.
Pai, nada podem teus olhos doces.
Escutarei de noite as tuas palavras:
... menino, meu menino...
E na noite imensa
com as feridas de ambos seguirei.
Pablo Neruda, in "Crepusculario"
Fotografia original em http://www.neruda.uchile.cl/infancia.htm
«Escrever é fácil. Você começa com uma maiúscula e termina com um ponto final. No meio coloca ideias.»
Pablo Neruda
Alexandre Manuel Vahia de Castro O'Neill de Bulhões (Lisboa, 19 de Dezembro de 1924 - 21 de Agosto de 1986)
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